Ele decidiu que não vai deixar a prefeitura nesta sexta-feira (6), data limite para que aqueles que estão no Executivo e pretendem tentar nas urnas um outro cargo se desincompatibilizem.
A desistência de Neto é um fator negativo para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que perde um palanque importante para sua tentativa de se viabilizar candidato à Presidência da República.
“Vamos ter candidato na Bahia”, disse Maia à Folha.
O plano B do DEM é, ao menos por enquanto, José Ronaldo, prefeito de Feira de Santana.
ACM Neto, que é presidente nacional do DEM, disse que, se José Ronaldo não aceitar, o partido pode apoiar o candidato de outro partido.
“Se o prefeito José Ronaldo decidir renunciar a seu mandato, ele, automaticamente, torna-se pré-candidato. Caso não renuncie, vamos continuar na discussão com os demais partidos”, afirmou o prefeito de Salvador.
Neto vinha dando sinais de que poderia não deixar a Prefeitura de Salvador. Sua gestão à frente da capital baiana tem mais de 70% de aprovação.
Ele temia não se eleger para o Executivo estadual na disputa com o atual governador, Rui Costa (PT), que, além da máquina, tem 65% de aprovação.
Pesou na decisão do prefeito o fato de não ter conseguido atrair partidos da base aliada do governador Rui Costa (PT), como o PP e o PR. Apesar das costuras políticas feitas em Brasília, ACM Neto (DEM) não conseguiu concretizar as alianças localmente.
As discussões com o PR duraram até a noite de ontem, quando foi colocada na mesa a proposta do partido indicar o candidato a vice ou senador na chapa do DEM. A vinda do PP ou do PR serviria para compensar, em tempo de televisão, a perda do MDB.
O DEM optou por não se coligar com o emedebistas baianos após a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima após a descoberta de um bunker com R$ 51 milhões em Salvador.
A desistência de ACM Neto deve implodir o grupo que faz oposição ao PT na Bahia, com uma possível debandada de partidos e deputados para a base do governador Rui Costa. O deputado federal Claudio Cajado (DEM) foi o primeiro: anunciou filiação ao PP.
Um dos principais aliados do prefeito, o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM) diz que a candidatura já estava com estrutura partidária montada e chapa definida para entrar na disputa. Mas optou por declinar da disputa por decisão pessoal.
“O coração tem razões que a própria razão desconhece. Não tem o que discutir, ele decidiu com o coração”, afirmou o deputado.
Ao falar com jornalistas sobre a desistência, ACM Neto tergiversou sobre os motivos.
“Depois de ouvir muita gente na política, fora da política, meus amigos, minha família, deixei meu coração falar. E meu coração me impede, neste momento, de deixar a prefeitura. Amo o que faço”, disse o prefeito.
À Folha, ACM Neto disse que é novo e que pode tentar o cargo mais adiante. “Tenho que concluir o meu trabalho para deixar um legado. Tenho 39 anos e posso esperar”, afirmou o prefeito.
No Twitter, o ex-ministro e atual secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Jaques Wagner (PT), comentou a desistência do prefeito, sem citar o nome dele.
“A gente não escala time adversário. Seguimos trabalhando com os pés no chão. Eleição é humildade e diálogo com o povo, olho no olho. Ninguém ganha ou perde na véspera. O momento é de serenidade e seguir trabalhando”, escreveu Wagner.