O clima de urgência marcou a oficina presencial da Estratégia Alimenta Cidades, realizada no Arquivo Público de Salvador, no Comércio. Promovido pela Coordenação de Segurança Alimentar do município — órgão vinculado à Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (SEMPRE)—, o evento reuniu representantes do Governo Federal, Estadual e Municipal, além de conselheiros e especialistas, para discutir o diagnóstico de Segurança Alimentar e Nutricional na capital baiana. Mas o que deveria ser um debate técnico transformou-se em um ato de cobrança pública, com críticas diretas à gestão Bruno Reis pela demora na implementação da Lei Municipal de Segurança Alimentar.

O momento mais contundente veio do presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (COMSEA-SSA), Mozart, que, durante a abertura do evento, não poupou palavras e mandou um recado para o secretário Júnior Magalhães, da SEMPRE, que não compareceu ao evento, sendo representado por meio do subsecretário da pasta, Dênio Primo: “O secretário se comprometeu a instituir a Lei Municipal de Segurança Alimentar e, até hoje, nada foi feito!” A declaração foi recebida com aplausos pelos conselheiros e participantes, evidenciando a frustração de quem trabalha diretamente com o tema. Mozart reforçou que, sem a lei, políticas essenciais para combater a fome ficam travadas, deixando milhares de soteropolitanos em situação de vulnerabilidade.

O panorama da fome em Salvador

Enquanto a prefeitura não avança, os dados apresentados no evento pintam um quadro alarmante: 3 em cada 10 (28,4) habitantes de Salvador enfrentam algum grau de vulnerabilidade nutricional, segundo dados do IBGE 2022. Tiago Pereira, coordenador-geral do Programa Bahia Sem Fome, destacou que, embora o estado tenha ampliado de 7 para 102 municípios a adesão ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN) desde 2023, Salvador ainda não está entre eles. “Quando o município faz essa adesão, ele passa a acessar programas federais como o de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Cozinha Comunitária, dentre outros. É um passo fundamental, e Salvador precisa correr atrás”, afirmou.

Luiza Trabuco, secretária extraordinária de Combate à Pobreza e Fome do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), reforçou que a Estratégia Alimenta Cidades foi criada justamente para priorizar 60 grandes municípios brasileiros — incluindo Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista —, onde a fome tem índices críticos. “É uma mobilização para garantir alimentação adequada nos grandes centros urbanos, articulando políticas públicas em todas as esferas de governo”, explicou. No entanto, enquanto outras cidades já avançam, Salvador segue sem aderir formalmente ao sistema, perdendo oportunidades de recursos e programas.

O Governo do Estado tem feito sua parte: mantém 32 cozinhas comunitárias e solidárias na capital, além de dois restaurantes populares (no Comércio e na Liberdade), que servem 6,5 mil refeições por dia. Mas, como admitiu Tiago Pereira, “é preciso mais”.

Já Karine Assis, da Coordenação de Segurança Alimentar do município, afirmou que o diagnóstico feito na oficina é fundamental para direcionar ações futuras.

Silêncio que preocupa

A ausência de um posicionamento claro da gestão municipal sobre os motivos do atraso na lei e na adesão ao SISAN aumenta o desconforto de quem luta para combater a fome na capital baiana e o sofrimento das 688.260 pessoas que vivem em situacao de pobreza na primeira capital do Brasil. Enquanto lideranças federais, estaduais e da sociedade civil pressionam por respostas, a Prefeitura segue sem se manifestar publicamente sobre quando — ou se — essas medidas sairão do papel.

Mas o que deveria ser um debate técnico transformou-se em um ato de cobrança pública, com críticas diretas à gestão Bruno Reis pela demora na implementação da Lei Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional.

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