As discussões em torno do retorno às aulas presenciais nas escolas públicas e privadas de Vitória da Conquista têm sido recorrentes durante o atual período de pandemia, mas o assunto ganhou maior evidência no município desde o dia 16 de abril, quando foi debatido na Câmara Municipal de Vereadores. Durante a sessão do Legislativo, todos os parlamentares da bancada de situação votaram a favor de uma indicação de autoria do vereador Drº Augusto Cândido (PSDB) que solicita a volta do ensino presencial.

oito votos favoráveis e seis contrários, a matéria seguiu para avaliação da prefeita Sheila Lemos. Enquanto o Executivo não chega a uma decisão, vereadores da oposição, mães de alunos e entidades como o Sindicato do Magistério Municipal Público (Simmp) acreditam que retomar as atividades presenciais neste momento é um risco à saúde pública. Eles dizem ainda que as escolas municipais não estão preparadas para receber os alunos.

No documento enviado à Prefeitura, Cândido afirmou que o fechamento das escolas “causou prejuízos à saúde física, mental e educacional das crianças”. E, por isso, ele solicita a reabertura das instituições que se adequarem aos protocolos sanitários. “Com os dados que temos em Conquista, nós sabemos que é possível retomar as aulas nas unidades adaptadas para seguir as medidas de segurança. O município poderia liberar essas escolas com aulas híbridas, tendo apenas 50% dos alunos no modelo presencial e seguindo o distanciamento necessário nas salas”, afirmou o vereador.

Visita dos vereadores Alexandre Xandó e Valdemir Dias à Escola Municipal Moisés Meira

Mas para o líder da bancada de oposição e presidente da Comissão de Educação da Câmara, o vereador Valdemir Dias (PT), as escolas municipais não estão equipadas para receber alunos e professores com segurança. “Esse não é o momento adequado para o retorno presencial. Nós estamos realizando visitas às instituições de ensino e, mesmo sem pandemia, temos escolas com sérios problemas estruturais. Existem colégios com pias quebradas e sem materiais básicos para higienização”, explicou.

No último dia 3 de maio, Dias e Alexandre Xandó (PT) estiveram na Escola Municipal Moisés Meira, no Distrito José Gonçalves, zona rural de Conquista. “As escolas estão paradas desde 2020 e temos lugares até com mato tomando conta. A gestão municipal deveria ter aproveitado que as escolas estão fechadas para melhorar as estruturas. Agora, está nas mãos do secretário e nós estamos aqui fiscalizando”, disse Valdemir.

“Não podemos nos ater apenas a uma pia”

De acordo com o Secretário de Educação, Edgard Larry, a discussão sobre o retorno das aulas presenciais não deve se restringir somente à estrutura física das escolas. “Essa é apenas uma etapa dentro do todo que nós já estamos avaliando. Durante os últimos dias, tivemos um diálogo aberto com os diretores da rede [municipal e privada] e com os coordenadores de creches. Estamos avançando nesse diálogo”, afirmou.

Nomeado em 13 de abril, Larry assumiu o lugar do ex-secretário Esmeraldino Correia. Para ele, é preciso que a população esteja ciente da necessidade da volta às aulas presenciais, mas nas condições adequadas. “Não podemos nos ater apenas a uma pia ou colocação de uma janela, que são muito importantes na pandemia. Existem outros elementos que são inerentes ao processo pedagógico. Isso passa por uma revisão de metodologias. Somente assim, nós conseguiremos buscar o caminho do errar menos possível”.

“Também queremos o retorno, mas com segurança”

Em resposta à indicação do vereador Drº Augusto Cândido (PSDB), o Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista (Simmp) publicou, em 19 de abril, uma moção de protesto e repúdio. Além do autor da matéria legislativa, o documento foi direcionado aos outros sete edis que votaram a favor da indicação: Delegado Marcus Vinicius (PODE), Dinho dos Campinhos (PP), Subtenente Muniz (AVANTE), Orlando Filho (PRTB), Nildo Freitas (PSC), Adinilson Pereira (MDB) e Nelson de Vivi (DEM).

Entre os motivos para se posicionar contra o retorno das aulas presenciais no atual momento, o sindicato citou o aumento do número de casos e mortes por covid-19 no município, a falta de estrutura das escolas municipais e a necessidade de vacinação para todos os profissionais da educação.

No dia 19 de abril, o SIMMP publicou uma moção de repúdio contra a indicação do vereador Augusto Cândido (PSDB)

“Nós entendemos que é preciso retornar às aulas presenciais. Há um prejuízo enorme para a educação dessas crianças e adolescentes, mas o prejuízo maior é a perda da vida. E por isso defendemos a vacinação para todos os profissionais que fazem parte do processo de educar”, explicou a presidente do Simmp, Elenilda Ramos Lima.

Além de garantir a proteção dos professores e demais profissionais que fazem uma escola funcionar, Elenilda disse que é necessário pensar na segurança dos alunos. “A gente sabe que ainda não existem vacinas testadas para crianças e adolescentes. O ideal é que só voltássemos com todos vacinados, mas infelizmente não é possível. Então, o que a gente espera é que a gestão municipal tenha bom senso. Será que não seria melhor aguardar essa vacinação dos alunos? Não podemos ser egoístas e pensar somente na vida do profissional da educação. Qualquer um está suscetível a complicações da covid-19.”

Para a presidente do Simmp, o retorno das aulas presenciais também exige o preparo das estruturas físicas das escolas. “Precisamos de espaços onde seja possível respeitar os protocolos de segurança para prevenção da covid-19. E as nossas escolas municipais não estão preparadas. A maior prova disso foi o que aconteceu na Escola Municipal Antônia Cavalcanti, no bairro Cruzeiro, quando o teto da instituição desabou.”

O que pensam as mães 

Lidaiane Arruda é mãe de três alunos que estudam na rede municipal de ensino de Vitória da Conquista. São duas crianças, uma de 6 e outra de 11 anos, e um adolescente, de 15. Os colégios Professora Ridalva Correa de Melo Figueiredo, no bairro Ibirapuera, e Mãe Vitória de Petu, no Petrópolis, são os locais para onde a auxiliar de cozinha não tem coragem de mandar os filhos durante a pandemia da covid-19.

“Mesmo se as aulas presenciais voltarem, meus filhos não vão. Eu não acho que as escolas estão equipadas para receber as crianças de forma segura. As salas de aula são fechadas, quase não tem ventilação. Os banheiros não estão adaptados”, explicou Lidaiane.Os filhos de Lidaiane e Edna estudam na Escola Municipal Mãe Vitória de Petu

das melhorias na estrutura do colégio, Lidaiane e Edna acreditam que o retorno às aulas presenciais só deve acontecer quando as crianças e os professores estiverem vacinados. “A minha filha de 11 anos fica o dia todo na escola. Tem a divisão dos talheres, as crianças uma do lado da outra na hora de comer. Ninguém sabe quem tá ou não tá com covid-19. Crianças e adolescentes não vão querer ficar afastados dos coleguinhas. Vão querer abraçar, conversar”, desabafou Lidaiane.

Kariny Oliveira, 45, é mãe de Emile, estudante de uma escola particular localizada no bairro Brasil. Para ela, a pandemia ainda não está sob controle, por isso não se sente segura em deixar sua filha na escola. “Como mãe de uma aluna que se encaixa no grupo de risco, já que Emile tem problemas respiratórios, eu não concordo com a retomada das aulas presenciais neste momento. Não vou correr esse risco”, disse.

Mãe de Fernanda, Fabiana Gusmão, 47, se sente apreensiva em relação ao retorno das aulas presenciais. “Minha filha estuda no Centro Integrado Navarro de Brito, no bairro Brasil. Por ser uma escola de grande porte, que atende cerca de 3000 estudantes, eu não vejo como oferecer segurança aos alunos”, afirmou.

Fernanda é autoimune e, por isso, Fabiana não planeja mandar a filha de 18 anos de volta para a escola, caso o ensino presencial retorne ainda este ano. “A primeira dose da vacinação ainda não alcançou nem 20% da população e a segunda não passa de 9%. Não estamos seguros”, explicou.

Ensino remoto

No dia 11 de maio, as equipes técnicas das Secretarias Municipais de Educação (Smed) e de Saúde (SMS) se reuniram para definir os próximos passos do plano de retomada das atividades escolares. Quatro escolas da zona urbana e uma da zona rural foram escolhidas para um plano piloto. Nessas instituições, será avaliada a possibilidade do retorno das aulas de forma híbrida, com aulas semipresenciais. Segundo a diretora de Vigilância em Saúde, Ana Maria Ferraz, as equipes irão verificar as estruturas físicas dos colégios e a disponibilização de insumos e equipamentos de proteção individual.

O secretário Edgard Larry também disse que o Executivo municipal pretende intensificar a atenção às ferramentas de ensino remoto. “As aulas online são uma realidade sem volta, podemos nos arriscar a dizer. É claro que o ensino remoto depende, dentre outras coisas, de equipamentos e ferramentas. Nós buscamos otimizar essa relação tecnológica com os nossos alunos, com a rede como um todo. Esse é um trabalho que não pode passar despercebido”, disse Larry.

A presidente do Conselho Municipal de Educação (CME), Carmem Freitas de Oliveira, afirmou que, desde abril de 2020, a Smed disponibilizou uma plataforma para aulas virtuais. “Agora, estamos discutindo, juntamente com o secretário Edgard, medidas e projetos que visam melhorar o acesso dos alunos ao ensino remoto. Além disso, temos acompanhado a distribuição das atividades impressas e a implantação de um aplicativo para os alunos dos anos iniciais”, explicou.

Mas para Lidaiane Arruda, mãe de três estudantes de escolas públicas em Conquista, o acesso ao ensino remoto é muito difícil. Ela não possui rede Wi-Fi em casa. Nos meses em que consegue pagar a internet móvel, os filhos assistem às aulas pelo celular. Mas nem sempre isso acontece.

“A gente usa dados móveis, mas às vezes é muito difícil porque a internet cai. Tem meses que eu não consigo pagar porque estou desempregada. Quando a vizinha está em casa, a gente vai na casa dela. Quando ela não tá, fica difícil”, contou Lidaiane.

Segundo o presidente da Comissão de Educação da Câmara, Valdemir Dias (PT), a gestão municipal não fez uma boa condução da educação durante o período de pandemia. “Foi ‘jogado’ um ensino remoto aos alunos e professores sem nenhuma estrutura. Ou seja, os professores tiveram que se virar para usar os seus equipamentos e internet. E também não foi oferecido nenhum suporte aos alunos. Não houve incentivo de internet e equipamentos. Então, aqueles alunos que não tinham condições de ter um tablet ou notebook, ficaram de fora”, afirmou o vereador.

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