Após ser denunciado pelo MPF, traficante que exportava cocaína pelo aeroporto de Viracopos é condenado a 102 anos de prisão
Um dos líderes de uma organização criminosa que enviava cocaína à Europa pelo aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), foi condenado a mais de 102 anos de prisão por lavagem de dinheiro e outros ilícitos. Alvo de uma denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Roberley Eloy Delgado comandava uma rede familiar destinada à ocultação dos recursos oriundos do tráfico de drogas. As transações envolviam a circulação de quantias em espécie, operações financeiras ilegais e a aquisição de imóveis e veículos sem registro.
A esposa de Roberley, Gislaine da Silva, também foi condenada por participação nos crimes. Segundo a sentença da 1ª Vara Federal de Campinas, ela deverá cumprir 35 anos de prisão. Além do casal, as condenações incluem duas irmãs do traficante (Mirlene Hermínia Delgado Alves e Meire Cristina Delgado dos Santos), dois cunhados dele (Clodoaldo Aparecido dos Santos, marido de Mirlene, e Rafael Augusto da Silva, irmão de Gislaine) e o operador financeiro André de Azevedo Avelino. Somadas, as penas chegam a 196 anos de detenção.
Roberley era peça-chave nas atividades de tráfico desbaratadas em 2020, na chamada Operação Overload. Ele intermediava as remessas de cocaína com destino a terminais europeus, mantinha contato com fornecedores da droga e realizava a distribuição de valores obtidos com as vendas. Também a pedido do MPF, o traficante já havia sido condenado em 2022 a outros 26 anos e 9 meses de prisão por sua atuação no esquema instalado no aeroporto de Viracopos (processo número 0000424-74.2019.4.03.6105).
Lavagem – Parte do dinheiro obtido com o tráfico foi apreendido em posse de Roberley, em setembro de 2020. Autoridades encontraram R$ 342 mil em espécie, além de grande quantidade de dólares e euros. As investigações demonstraram que outra parcela dos recursos ilícitos circulava pelo sistema bancário por meio das contas de suas irmãs, da própria filha – menor de idade – e de empresas registradas em nome de laranjas.
As quantias eram lavadas também a partir de empréstimos intermediados pela empresa AAX Consultoria em Gestão Empresarial, de André Avelino. As operações camuflavam-se com a simulação de contratos de compra e venda entre familiares de Roberley e os tomadores desses empréstimos. As transações não tinham autorização do Banco Central nem passavam por fiscalização do sistema financeiro.
A outra vertente de lavagem baseava-se na aquisição de bens. As apurações revelaram que o dinheiro da exportação de drogas foi usado para a compra de 13 veículos e nove imóveis, todos sem registros que apontassem para o verdadeiro dono: Roberley. Entre essas propriedades estão participações em um hotel em Foz do Iguaçu (PR) e uma chácara em Monte Mor (SP), documentada em nome de Rafael da Silva, mas cuja piscina tem a inscrição “Família Delgado” feita com azulejos.
Esquema – O tráfico pelo aeroporto de Viracopos envolveu uma extensa rede de operadores, entre fornecedores de drogas, articuladores de logística e funcionários do terminal. A cocaína era acondicionada em bagagens convencionais. Informações internas repassadas aos traficantes permitiam à organização criminosa mapear as rotinas de vistoria de cargas, as trocas de turno das equipes e as brechas de segurança que possibilitariam o trânsito das malas até as aeronaves. Durante as investigações, autoridades conseguiram apreender 138 quilos de entorpecentes negociados pelo grupo.