A sensibilidade política de Antonio Brito na criação da Bancada Negra
O que Brito fez, me parece ser o desejo de qualquer político brasileiro de boa fé. Ter em mãos a missão de emitir um parecer diante de um projeto tão importante para o futuro político do país, que expressa a reparação, o avanço e novas conquistas, para uma camada estigmatizada pelo preconceito.
Ao dizer SIM ao Projeto de Resolução n° 116, de 2023 que criou a Bancada Negra da Câmara dos Deputados, de autoria da Deputada Talíria Petrone (Psol/RJ) e Deputado Damião Feliciano (União-PB), o Deputado Federal Antonio Brito (PSD-BA) não se pautou apenas nos aspectos técnicos legislativos e constitucionais do Projeto. Brito foi visionário ao ser sensível aos gritos e clamores que, há séculos, vêm das ruas, dos povos e de um passado impiedoso.
O Brasil foi o último país a renunciar à escravidão na América. Foram 300 anos de escravidão, abolida formalmente em 1888. Ainda assim, depois de mais de um século, ainda está enraizado no inconsciente coletivo da sociedade brasileira, um pensamento que marginaliza as pessoas negras, as impede de se constituírem como cidadãs plenas.
Esse impedimento está expresso em números: pretos e pardos representam 56% da população. Mesmo assim, são minoria nos espaços de decisão: ocupam pouco mais de 29% dos cargos de gerência nas empresas brasileiras. Entre os mais pobres, os negros são muitos: dentre os 10% dos brasileiros com menor renda familiar mensal, 75% são negros. Entre os que morrem, eles são maioria: uma pessoa negra tem 2,7 vezes mais chances de ser vítima de homicídio que uma pessoa branca.
O parecer de Antonio Brito pode ser considerado como uma importante intervenção de neutralização as ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que já fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro, e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial; o que nós chamamos de Racismo Estrutural.
A Câmara dos Deputados é o catalizador de todos os anseios e demandas da sociedade brasileira, e a criação dessa Bancada Negra vai permitir a proposição, a discursão e a inserção, mais fortalecida, das questões relacionadas à igualdade racial no Brasil, no seio da Congresso Nacional.